Em suma, Agostinho ensina reiteradamente que, se algo é deixado à sorte, o
mundo revolve ao léu. E visto que ele estabelece em outro lugar que tudo se processa
em parte pelo livre-arbítrio do homem, em parte pela providência de Deus, contudo
pouco depois deixa bastante claro que os homens estão sujeitos a esta, e são
por ela governados, uma vez ser sustentado o princípio de que nada há mais absurdo
do que alguma coisa acontecer sem que Deus o ordene, pois doutra sorte aconteceria
às cegas. Razão pela qual até exclui a contingência que depende do arbítrio dos
homens, asseverando, ainda mais claramente logo depois, que não se deve buscar
qual é a causa da vontade de Deus. Quantas vezes, porém, é por ele feita menção do termo permissão, como se deva entender que isso se evidenciará perfeitamente
de uma passagem onde ele prova que a vontade de Deus é a suprema e primeira
causa de todas as coisas, já que nada acontece a não ser por sua determinação
ou permissão. Certamente, ele não imagina Deus a repousar em ociosa torre de
observação, enquanto se dispõe a permitir algo, quando intervém uma, por assim
dizer, vontade presente, de qualquer modo não se poderia declarar como causa.
João Calvino. Institutas.
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